Banca da Santidade

Separados para Deus

terça-feira, setembro 28, 2010

Quando Voam Ligeiro as Palavras

Visitar mãe Silícia, em seus setenta anos de idade, não é realizar uma atividade pastoral, mas visitar a universidade da vida e aprender em silêncio com seus decanos. Porque mãe Silícia, como toda mãe e de maneira particularmente especial, é a confluência natural de toda a sabedoria que ainda não chegou nos livros e que não se pode obter pesquisando em bibliotecas, reais ou virtuais, porque sabedoria popular, produzidas nas profundas trocas entre pessoas humanas, é o último resultado de uma história de alegrias e sofrimentos.

Quando cheguei no barraco da comunidade de Vila Maravila e me sentei com mãe Silícia para partilhar um gole de café com pão, manteiga e ovo frito, que ela teimosamente insiste em comprar sempre que eu apareço lá, eu levava um versículo bíblico que estava regendo minhas meditações pessoais, relação entre amor de Deus e amor humano, e o apresentei para dividi-lo com mãe Silícia.

“Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” I João 4:19

– Engraçado – comentou ela pensativamente – hoje se fala muito mais de amor do que antigamente. Antigamente se falava muito menos de amor, mas – fez uma pausa como quem espera pela fora do próprio pensamento – amava-se muito mais do que hoje. Hoje se fala tanto de amor... deve ser porque está faltado... por isso é que é preciso que se fale cada vez mais...
Saí dali meditando sobre a profundidade abissal do pensamento de mãe Silícia. As palavras são pronunciadas ali onde não existem, ali onde fazem falta. As palavras são pronunciadas porque seus conteúdos não existem, porque precisa-se dos seus objetos. As palavras são pronunciadas para que os seus conteúdos existam, para que os objetos apareçam.

Texto enviado por Kelvin Rodrigues
Extraído do livro Vila Maravila – Pr. Marcos Monteiro


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